29 de junho de 2011

Planeta de uma mãe só

Planeta solitário este da maternidade. Sim, quem habita este planeta sabe o quão só se vive. Possivelmente é uma defesa natural que faz com que a mãe volte toda sua atenção para o filho, reforçando assim o vínculo entre eles. Quer momento mais solitário do que a amamentação? E por mais que tudo à sua volta esteja como sempre esteve - a rotina, os afazeres domésticos, a marido saindo de manhã e voltando à noite, o cachorro latindo, o interfone, o trânsito - lá dentro, no seu íntimo, na sua casa, a mãe está sozinha. Sua missão é cumprida de forma isolada. Seu papel é único. As decisões mais importantes são suas. O filho, antes de conhecer o mundo, morou na sua casa por 9 meses, mas a deixou vazia ao sair. Pior: saiu e deixou a casa toda bagunçada. A mãe não encontra mais suas coisas. Onde está seu filme favorito? Seu livro de cabeceira? Seu sorvete de domingo? A roda de amigos? O caminhar despreocupado? O olhar despretensioso? Onde estão mesmo seus sonhos? Aqueles só seus, quase egoístas? Em que parte da casa foi parar seu corpo e a mobilidade livre de antes? A mãe não encontra mais o que antes estava tão fácil, ao seu alcance. O lugar de cada uma dessas coisas foi ocupado por algo muito maior, ainda que aparentemente menor. E a casa, ainda que vazia,  ficou pequena para essas outras coisas. Agora a mãe precisa de tempo para reorganizar tudo. E precisa de um importante e urgente reencontro: consigo mesma.