4 de novembro de 2013

(re)descobrindo as infâncias


Cada vez mais encantada com a infância. É assim que me sinto desde que comecei o curso de pós-graduação “Formação de Profissionais para as Infâncias do Brasil – 0 a 3 anos”, pelo Instituto Singularidades (www.singularidades.com.br). Desde que a Laura nasceu, há 3 anos, a infância voltou a permear meu inconsciente, com força. Aos poucos, fui percebendo que é isso que faz sentido para mim, e trabalhar com esse assunto, infâncias, seja direta ou indiretamente com crianças, é que o eu quero pra mim.

Cursei 1 ano de pedagogia na PUC/SP, lá atrás, em 1998, faz tempo... tranquei a matrícula, pq. já havia iniciado o curso de Direito, estava no terceiro ano, estagiando, e sobrava pouco tempo para me dedicar aos estudos da educação. Infelizmente, fui prolongando a data de reabrir a vaga, até que ela expirou, e eu perdi a vaga...mas o curso ficou vivo em mim, assim como a infância.

Mudei os rumos da minha vida e, quando me dei conta, estava trabalhando em uma Ong que atendia crianças e adolescentes, e eu me encantava com os pequeninos, que todos os dias, mostravam olhos curiosos para meu local de trabalho. E, paralelamente, eu contava estórias para crianças hospitalizadas, como voluntária de uma outra ONG.

Aí minha filha nasceu, minha infância voltou com tudo! E, por fim, comecei a trabalhar na Fundação Abrinq, há 2 anos, tendo contato diário com a temática da infância.

Crianças e infâncias sempre me fascinaram. Crianças são verdadeiras, intensas, curiosas, encantadoras. Infância é uma fase linda da vida, fase de descoberta, de formação, de magia, de encantamento.

Com esse curso, aprendi a usar o termo “infâncias” e não “infância”, pois são várias as infâncias, dependendo de seu contexto no tempo, na sociedade, na geografia. Estou estudando a importância do brincar, da observação de crianças, de deixa-los viver a infância de forma mais livre, sem tanta interferência dos adultos, como planejar e pensar espaços para as brincadeiras, o repertório cultural, enfim, é um curso que aborda diversos aspectos da criança e suas infâncias.

E, naturalmente, acabo usando esse conhecimento na relação com a minha filha. Estou aprendendo a olha-la com outros olhos, a enxergar melhor o que ela realmente quer e não as atitudes dela com relação às minhas expectativas.

Tenho percebido mais claramente como nós, adultos, interferimos nas ações das crianças, nas mais simples e banais situações, como aquela cena típica de uma criança pegando o brinquedo da outra, e nós insistindo pra que saibam dividir, ao invés de brigar. Recentemente, presenciei a Laura, 3 anos, e seu primo, de 4, discutindo por causa de um brinquedo. Fiquei quieta, só olhando, sem interferir. E não é que eles resolveram a situação? E o melhor, na conversa. Tá certo que foi meio ríspido o diálogo entre eles, um gritando mais que o outro, mas eles se entenderam, sem a intromissão dos adultos. Acho que isso é uma socialização legítima, verdadeira e que faz sentido para a criança. E seguimos aprendendo.  

8 de março de 2013

A mãe e suas buscas

Não há dúvida de que maternidade e carreira é o eterno dilema da mulher hoje. A maternidade muda as prioridades das mulheres, e nessas mudanças se inclui o curso da vida profissional.
Eu comecei a trabalhar com 19 anos, como estagiária de um escritório de advocacia, e desde então não parei mais, salvo em alguns períodos de entre safra, nas épocas de processos seletivos. Já mudei de ramo e estou em constante busca da minha satisfação profissional. Encontrei mais significado para minha atuação no Terceiro Setor, mas continuo em busca de mais significância. Ou seja, o trabalho sempre foi uma das minhas prioridades. Mas, curiosamente, quando a Laura nasceu, ou melhor, ainda na gravidez, uma força interna muito maior que minha busca pela satisfação profissional, tomou conta de mim. E eu resolvi dar um tempo.
Coordenava a área de comunicação de uma instituição do Terceiro Setor que eu amo, mas que era bem distante da minha casa. Eu adorava meu trabalho, e exerci a função até 1 mês antes de a Laura nascer. Estava disposta a voltar depois da licença, mas...não consegui. A maternidade me engoliu, eu não conseguia pensar na ideia de ficar 8 horas distante da Laura, devido à força do vínculo que se estabeleceu tão rápido. Quando eu ficava 2 horas sem a pequena, já sentia um buraco no peito, imagina ficar o dia todo longe dela.
Depois de ler muito a respeito sobre a necessidade do recém-nascido e das crianças pequenas estarem próximos da mãe para a sua segurança emocional, dei prioridade a Laura (ou às minhas cobranças internas), e no final da licença maternidade propus à organização para a qual trabalhava prestar serviço como autônoma. Foi uma experiência ótima, pois eu fazia meus horários, ficava longe da Laura alguma horas apenas, e trabalhava em casa. Porém,  conforme a pequena foi crescendo, a dificuldade de trabalhar em casa aumentou, e eu não conseguia conciliar o tempo entre meu trabalho e os cuidados e a atenção com a Laura. O resultado foi uma desordem total! Aí percebi que eu não tinha planejamento algum, e nem podia, pois tinha noite que a Laura dormia, noite que não dormia, e o rendimento do meu dia dependia disso. Eu estava emocionalmente cansada, e só depois de algum tempo percebi que o primeiro ano de vida do bebê consome muito da mãe, esgota mesmo, e se torna muito difícil trabalhar e cuidar da cria, com qualidade nas duas atividades. A sensação que eu tinha até a Laura completar 1 ano era a der trabalhado ininterruptamente por 5 anos sem férias! Acho que se eu tivesse me preparado melhor psicologicamente para essa fase, nem teria pensado em trabalho.
Quando a Laura completou 1 ano, comecei a procurar trabalho, por uma necessidade pessoal. Queria retomar outros assuntos que não fraldas, leite e papinha. Me sentia isolada do mundo, e, ironicamente, queria me sentir útil. Cobranças dessa vida moderna, que hoje eu não daria muita bola...imagina se eu não estava sendo útil como mãe em tempo integral!
Passei num processo seletivo de outra instituição do Terceiro Setor, que gosto muito, e fiquei bem feliz. Ainda mais porque a instituição fica a 500m da minha casa, eu vou a pé para o trabalho, almoço em casa todo dia, levo a Laura na escola, e chego em casa às 18h10, todo santo dia. É um privilégio, não tem como negar. E acho que isso ajuda muito, pois de certa forma é como se eu estivesse presente o tempo todo.  Somente nas viagens que faço, que duram em média 5 dias, em outros estados, dá um aperto. Entrar no avião para uma viagem a trabalho é uma sensação desconfortante, estando longe da filha e sabendo dos riscos que se corre. Mas no final, quando eu volto, mato as saudades, e vejo como amadureci profissionalmente, acho que vale à pena.
Penso muito no futuro e tenho medo de ser uma mãe que não teve vida pessoal/profissional, mas somente familiar. Aquelas mães que sofrem muito quando os filhos saem de casa e continuam vivendo a vida dos filhos, depois de adultos. Por isso o trabalho é uma prioridade na minha vida, como meio de realização pessoal. Eu adoro trabalhar, adoro o ambiente de trabalho, as conversas, as relações, enfim, não me imagino só cuidando da casa e dos filhos.
Mas é claro, que, como tudo, o ideal é o meio termo. Então, eu sonho com o dia em que poderei trabalhar apenas 5 horas por dia, e poder acompanhar a rotina da Laura todo dia, estudando com ela, levando na aula de natação, ensinando coisas que acabamos delegando por falta de tempo. Sonho com a licença maternidade de 1 ano, e sonho com a flexibilidade de horário nos primeiros 7 anos de vida dos filhos. Porque apesar de estar feliz com meu trabalho e minha vida pessoal, tenho receio de estar perdendo uma fase importante da vida da Laura que é o primeiro setênio, que eu podia estar acompanhando full time e não estou.
Enfim, acho que a maternidade é um dilema constante no quesito escolhas. E não há mundo ideal, trabalho ideal, babá ideal, escola ideal, e, quer saber, nem filho ideal! Por isso, olhando para trás, me sinto orgulhosa das minhas escolhas, pois sempre me guiei pelas minhas vontades pessoais, pelos meus instintos, ainda que eles sofram interferências das cobranças da sociedade, claro. Mas sempre foram escolhas movidas por um desejo muito íntimo e profundo, uma vontade minha, lá do fundo. E é nisso que eu acredito, que cada mãe deve buscar a sua escolha, o seu mundo, o que funciona para si. A maternidade deve ser legítima, devemos vivenciá-la intensamente, e impor nossas vontades sim. A sociedade está em constante mudança, e sou bem otimista a este respeito. Por enquanto, vou me adequando à realidade possível, não à sonhada. 

13 de janeiro de 2013

Férias - fazia tempo


Fazia tempo, e muito, que eu não tirava 30 dias de férias. Nem me lembrava como é boa a sensação de não ter hora pra acordar, nem pra comer, nem pra dormir. Tá certo que com criança pequena as férias não são as mesmas de antes. Devem ter alguns horários e obrigações, mas, com jeitinho, a Laura até que está se adaptando bem no ritmo das minhas férias. E eu, estou me surpreendendo com a facilidade com que me desliguei dos horários e necessidades dela. Quando minha irmã ficava horas na praia com meu sobrinho pequeno, alimentado somente de milho e picolés, eu – que ainda não tinha filha – achava aquilo meio errado. Pois não é que estou fazendo a mesma coisa com a Laura? E ela está ótima. Santa sabedoria a da maternidade. Quer almoçar? Ok. Não quer? Beleza, toma um sorvete. Estamos acordando perto das 10h00, almoçando perto das 16h00, e de vez em quando jantamos, rs. Quando a pequena sente fome, pede bolacha, e aí é o sinal de que a menina tem que se alimentar. Se não pedir bolacha, fica na água de coco, e algumas besteiras. A única refeição religiosamente cumprida é o café da manhã, que ela tem se alimentado muito bem. Depois, deixo o dia correr. E quer coisa melhor? Estou em férias! Plenamente em férias. Que sensação maravilhosa essa de afrouxar as regras. De vez em quando bate uma neurose, eu penso que deveria estar fazendo tudo em horários seguidos à risca, mas aí olho pra Laura, vejo a cara de felicidade dela, e relaxo. Como é bom estar em férias!

Além disso, longe de tantas obrigações do trabalho e da casa, estou mais conectada comigo, o que também fazia tempo que não acontecia, e é uma das melhores partes. Acho até que estou fazendo as pazes comigo. Sabem como é, andamos meio brigadas nos últimos tempos... Estou aproveitando o tempo livre para deixar minha cabeça fluir, ficar livre também, refletir e pensar quando quiser, e viajar como bem entender. Imaginem só, estou conseguindo pensar até na redefinição dos cronograma de faxina da casa, o que eu nunca consigo pensar durante a semana de trabalho. Imagina chegar em casa, cansada, com fome, tendo que dar atenção à cria, e pensar nas tarefas domésticas? Jamais. Mas as férias servem pra isso, pra você organizar aquilo que só é possível fazer com fluidez de pensamento; sejam coisas banais ou projetos de vida, o que também estou fazendo. Quem sabe aquele sonho antigo de mudar de cidade não entra nos planos de 2013? Ou talvez eu mude minha vida mais radicalmente. Mas isso já é assunto pra outro post. Ou pro meu travesseiro.