8 de março de 2013

A mãe e suas buscas

Não há dúvida de que maternidade e carreira é o eterno dilema da mulher hoje. A maternidade muda as prioridades das mulheres, e nessas mudanças se inclui o curso da vida profissional.
Eu comecei a trabalhar com 19 anos, como estagiária de um escritório de advocacia, e desde então não parei mais, salvo em alguns períodos de entre safra, nas épocas de processos seletivos. Já mudei de ramo e estou em constante busca da minha satisfação profissional. Encontrei mais significado para minha atuação no Terceiro Setor, mas continuo em busca de mais significância. Ou seja, o trabalho sempre foi uma das minhas prioridades. Mas, curiosamente, quando a Laura nasceu, ou melhor, ainda na gravidez, uma força interna muito maior que minha busca pela satisfação profissional, tomou conta de mim. E eu resolvi dar um tempo.
Coordenava a área de comunicação de uma instituição do Terceiro Setor que eu amo, mas que era bem distante da minha casa. Eu adorava meu trabalho, e exerci a função até 1 mês antes de a Laura nascer. Estava disposta a voltar depois da licença, mas...não consegui. A maternidade me engoliu, eu não conseguia pensar na ideia de ficar 8 horas distante da Laura, devido à força do vínculo que se estabeleceu tão rápido. Quando eu ficava 2 horas sem a pequena, já sentia um buraco no peito, imagina ficar o dia todo longe dela.
Depois de ler muito a respeito sobre a necessidade do recém-nascido e das crianças pequenas estarem próximos da mãe para a sua segurança emocional, dei prioridade a Laura (ou às minhas cobranças internas), e no final da licença maternidade propus à organização para a qual trabalhava prestar serviço como autônoma. Foi uma experiência ótima, pois eu fazia meus horários, ficava longe da Laura alguma horas apenas, e trabalhava em casa. Porém,  conforme a pequena foi crescendo, a dificuldade de trabalhar em casa aumentou, e eu não conseguia conciliar o tempo entre meu trabalho e os cuidados e a atenção com a Laura. O resultado foi uma desordem total! Aí percebi que eu não tinha planejamento algum, e nem podia, pois tinha noite que a Laura dormia, noite que não dormia, e o rendimento do meu dia dependia disso. Eu estava emocionalmente cansada, e só depois de algum tempo percebi que o primeiro ano de vida do bebê consome muito da mãe, esgota mesmo, e se torna muito difícil trabalhar e cuidar da cria, com qualidade nas duas atividades. A sensação que eu tinha até a Laura completar 1 ano era a der trabalhado ininterruptamente por 5 anos sem férias! Acho que se eu tivesse me preparado melhor psicologicamente para essa fase, nem teria pensado em trabalho.
Quando a Laura completou 1 ano, comecei a procurar trabalho, por uma necessidade pessoal. Queria retomar outros assuntos que não fraldas, leite e papinha. Me sentia isolada do mundo, e, ironicamente, queria me sentir útil. Cobranças dessa vida moderna, que hoje eu não daria muita bola...imagina se eu não estava sendo útil como mãe em tempo integral!
Passei num processo seletivo de outra instituição do Terceiro Setor, que gosto muito, e fiquei bem feliz. Ainda mais porque a instituição fica a 500m da minha casa, eu vou a pé para o trabalho, almoço em casa todo dia, levo a Laura na escola, e chego em casa às 18h10, todo santo dia. É um privilégio, não tem como negar. E acho que isso ajuda muito, pois de certa forma é como se eu estivesse presente o tempo todo.  Somente nas viagens que faço, que duram em média 5 dias, em outros estados, dá um aperto. Entrar no avião para uma viagem a trabalho é uma sensação desconfortante, estando longe da filha e sabendo dos riscos que se corre. Mas no final, quando eu volto, mato as saudades, e vejo como amadureci profissionalmente, acho que vale à pena.
Penso muito no futuro e tenho medo de ser uma mãe que não teve vida pessoal/profissional, mas somente familiar. Aquelas mães que sofrem muito quando os filhos saem de casa e continuam vivendo a vida dos filhos, depois de adultos. Por isso o trabalho é uma prioridade na minha vida, como meio de realização pessoal. Eu adoro trabalhar, adoro o ambiente de trabalho, as conversas, as relações, enfim, não me imagino só cuidando da casa e dos filhos.
Mas é claro, que, como tudo, o ideal é o meio termo. Então, eu sonho com o dia em que poderei trabalhar apenas 5 horas por dia, e poder acompanhar a rotina da Laura todo dia, estudando com ela, levando na aula de natação, ensinando coisas que acabamos delegando por falta de tempo. Sonho com a licença maternidade de 1 ano, e sonho com a flexibilidade de horário nos primeiros 7 anos de vida dos filhos. Porque apesar de estar feliz com meu trabalho e minha vida pessoal, tenho receio de estar perdendo uma fase importante da vida da Laura que é o primeiro setênio, que eu podia estar acompanhando full time e não estou.
Enfim, acho que a maternidade é um dilema constante no quesito escolhas. E não há mundo ideal, trabalho ideal, babá ideal, escola ideal, e, quer saber, nem filho ideal! Por isso, olhando para trás, me sinto orgulhosa das minhas escolhas, pois sempre me guiei pelas minhas vontades pessoais, pelos meus instintos, ainda que eles sofram interferências das cobranças da sociedade, claro. Mas sempre foram escolhas movidas por um desejo muito íntimo e profundo, uma vontade minha, lá do fundo. E é nisso que eu acredito, que cada mãe deve buscar a sua escolha, o seu mundo, o que funciona para si. A maternidade deve ser legítima, devemos vivenciá-la intensamente, e impor nossas vontades sim. A sociedade está em constante mudança, e sou bem otimista a este respeito. Por enquanto, vou me adequando à realidade possível, não à sonhada.